Brasil: Povo Tupinambá de Olivença reinicia retomadas de suas terras

Numa semana de ocupações em Ilhéus, os indígenas Tupinambá de Olivença têm pelo menos 20 fazendas retomadas. ´Autodemarcar já, é a decisão dos caciques, lideranças e comunidades Tupinambá, cansados da protelação da demarcação de suas terras.

 

Auto demarcação do povo indígena Tupinambá

A necessidade de terra para construir seus territórios autônomos e viver bem. A negligencia que o Governo e as instituições “competentes”, têm como resposta as justas e legítimas exigências de demarcação. São as principais causas que obrigam ao povo Tupinambá de Olivença a fazer sua própria demarcação.  

“Nós povos indígenas Tupinambá de Olivença, só em 2002 fomos reconhecidos pelo Governo em Brasil e desde esse tempo começamos a fazer uma pressão política mais forte através das retomadas de nosso território ancestral”, comenta uma das cacicas Tupinambá, explicando que dez anos depois, o Governo não tem demarcado o território que pertencente a seu povo. Por isso, já se cansaram de esperar, de pedir, de rogar sem conseguir nada. Agora a decisão é fazer sua própria auto-demarcacão, porque o território ancestralmente é deles.

As comunidades não podem continuar esperando uma resposta de um Congresso que não só vem protelando a demarcação dos territórios Tupinambá, senão que também ameaça a consulta prévia, livre e informada com os povos indígenas que a Convenção 167 da OIT garanta-lhes. Sem a PEC 215 que tem proposta fosse sancionada. O governo faria a consulta previa, mas ao Ministério de Minas e Energia, entregando territórios para a exploração das elites econômicas do Brasil e o mundo. Assim, não serão os povos indígenas quem decidam acerca da implementação de mega-projetos e outros iniciativas que afetam seus territórios, senão as transnacionais que tem interesses econômicos nestes.

O Governo procura criminalizar os indígenas

“O 16 de julho a Polícia Federal chegou até a comunidade de Potyburi a procurar armas”, denuncia indignado um cacique, contando que a intenção deles sempre e criminalizar suas legitimas lutas pela terra. Conta também que foram até o núcleo escolar a procurar umas provas que só ficam em suas imaginações perversas.

“Este espaço antes era um bar onde vendiam cachaça para os parentes. Agora é um núcleo escolar, onde a comunidade indígena está se educando”, diz a professora aos policias que chegaram lá.

O trabalho nas fazendas é escravidão

Quase todas as terras têm grandes cultivos de cacau, banana e palmito, que os fazendeiros vendem se aproveitando do trabalho de indígenas e camponeses sem terras. Pessoal que fazem o trabalho mais forte e não ganha muito.

 “Toda minha família trabalha nesta fazenda desde muito tempo atrás. Eu só tenho um ano e meio cá. O trabalho e muito forte, pois esta fazenda tem mais de 400 hectares, tem um extenso cultivo de cacau e nós só somos seis”, compartilhou um indígena que trabalha para o fazendeiro. Ele trabalha demais e só consegui um salário que juntando todo no ano dai 4 mil reais, mesmo assim, tem que procurar suas próprias ferramentas e esperar ao fazendeiro que sempre chega a receber 50% das coletas, como “direto” por deixar que eles morem lá.

Esta prática não é nova, porque desde que os portugueses chegaram aos territórios indígenas escravizaram a nossos parentes. Depois chegaram outros, agora são outros, mas todos tem a intenção de seguir explorando a nossa Mãe Terra para eles acumular. ”Meu bisavô tinha marcas nas mãos com as iniciais do fazendeiro e nos pés ficavam as cicatrizes das correntes que ele tenha que usar para seu trabalho como escravo“, explicou um guerreiro Pataxó que acompanha a luta Tupinambá.

Alguns dos indígenas e camponeses que cuidam as fazendas sabem que os Tupinambá de Olivença tem direitos sobre essas terras, por isso quando os Tupinambá retomam , eles saem sem brigas. “Esta retomada foi feita em paz, por isso eu vou em paz”, diz uns dos vigilantes de uma fazenda em Santana. Também um fazendeiro, ao parecer com intenções de ser indenizado pelo governo, fala: “Eu desde menino sempre escutei a meus avos dizer que estas terras eram dos índios. Eu sabia que vocês voltariam por suas terras”.  

A necessidade de construir os territórios

Os Tupinambá de Olivença estão exercendo seu direito legítimo á terra desde a semana anterior. Eles estão demarcando pacificamente para construir territórios indígenas mais adiante. A intenção com essa ação é reconstruir suas aldeias e viver dignamente com a Mãe Terra.

 “A gente não quer Brasil. Só precisa de um pedaço de terra para viver nossa cultura e ter nossa comida”, essa é a fala de algumas lideranças Tupinambá que protagonizam as retomadas. Eles querem reflorestar essas terras maltratadas pela ambição dos fazendeiros.

“Índio é natureza. Índio é proteção. Nós precisamos cuidar da terra para voltar a viver da pesca da caça como antes. Agora o rio está poluído pelas fumigações feitas aos monocultivos”.

É o futuro enraizado ao passado que está em risco

“Nestas terras temos o cemintéiro indígena. Por isso, vamos retomar para cuidar de nossos antepassados”, explica um cacique Tupinambá, lembrando para todos nós indígenas, que nosso futuro não vem de adiante, sem não da memória de nossos ancestrais. Por isso, é muito importante recuperar o cemintéiro para que nossos parentes que morreram explorados e na luta por seus direitos, possam ficar em paz acompanhando as lutas de agora.

Tomara que quem tenha em suas mãos a decisão política para fazer a demarcação do território Tupinambá, pense não só com a razão, porque já é hora de pelo menos devolver as terras aos povos indígenas, já que não é possível uma indenização por todo o sofrimento, morte e despejo que vem resistindo desde mais de 512 anos.  

Autodemarcar o território Tupinambá não é só garantir a vida dos indígenas e alimentar o futuro de um território autônomo, senão também, proteger a Mãe Terra para que todas e todos possam viver bem. Todas e todos temos essa responsabilidade e agora os Tupinambá desde Ilhéus, tem esse compromisso e estão assumindo.

Voltar as terras a seus filhos é garantir a saúde de uma terra doente pela exploração dos donos do poder.

 

Neste e muitos mais olhares está a esperança dos guerreiros e guerreiras Tupinambá que desde as retomadas lutam pelo seu futuro enraizado ao passado.
 

 

 

Por: Vilma Almendra para Pueblos en Camino

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